Dicas para criação de metáforas
 



Dica de Escrita

Dicas para criação de metáforas

Carol Canabarro para o Escrita Criativa


A palavra metáfora, de origem etimológica no grego methaphorà, indica mudança, transposição. Na Poética, Aristóteles conceitua-a como "dar à coisa um nome que pertence a outra coisa (...) tendo como base a analogia", ou seja, relacionar dois conceitos que apresentem algo em comum. São estradas que se fundem para gerar novo ponto de chegada.



Presente na comunicação desde o tempo que o arco-íris era preto e branco, o uso da metáfora contribui para expressar percepções, sentimentos, representações mentais ou experiências de vida, bem como dar significado ou ênfase a ideias de forma não convencional. Para Rámon Caamal, a metáfora "não é um adorno da linguagem, mas sim ossos, nervos e alma da expressão".

Sob o guarda-chuva da Figura de Linguagem, a metáfora estabelece a relação de semelhança entre dois termos, com a transferência de significados através de uma comparação implícita. Sendo classificadas como:

- Metáfora Pura, sem conjunções ou locuções conjuntivas: "chorou litros";

- Metáfora Impura, ligadas por elemento comparativo, como um verbo: "seus olhos são torneiras abertas".

Pesquisas afirmam que, durante uma conversa, o ser humano usa, em média, uma metáfora a cada quinze segundos. Somos todos Usain Bolt da linguagem sem nem perceber. A explicação para a avalanche de analogias é a facilidade do nosso cérebro em memorizar metáforas. Usamos mais porque favorece a comunicação.

Por serem tão comuns no dia a dia, fugir dos clichês é tão difícil quanto dobrar lençol com elástico. No começo parece impossível, mas uma vez (bem) dobrado, o resultado é extremamente satisfatório. Principalmente para nós, escritoras e escritores. Para quem tem dificuldade de juntar as pontas, aqui vão algumas dicas:

1. Coloque a metáfora em banho-maria: Identifique o que você quer expressar com a maior riqueza de detalhes. Quais visões, sons, gostos, texturas ou emoções representam essa imagem? Use todos os sentidos. Se fosse um animal, uma estação do ano, uma temperatura, um esporte, uma cor ou uma música, qual seria? Faça uma lista, aumente seu vocabulário, compare de forma explícita e depois corte os excessos, por exemplo:

a) Imagem: "Marina estava furiosa porque bateram no seu carro";

b) Lista: sua irritação tem som de buzina alta, suas falas são pontiagudas, ela parece um cavalo distribuindo coices, seu rosto está vermelho-sangue;

c) Expanda o vocabulário: Ao invés de "pontiaguda" (adjetivo) encontre um objeto que tem essas características;

d) Corte os excessos e selecione o que faz mais sentido para seu texto e voilà: "Marina desceu do carro cuspindo adagas em direção ao motorista".

2. Inspire-se no clichê: "Marina estava uma onça", mostra que a personagem estava irritadiça, feroz. Volte para a lista do item um. Por exemplo, qual estilo musical ela seria? Mergulhe na imagem. Ao invés de "uma onça", diga "Os gestos de Marina ao descer do carro eram de um baterista de heavy metal".

3. Conheça seu público: a metáfora ganha ou perde potência a depender de quem é seu público-alvo. A expressão "O rosto do motorista fez um fouetté com o tapa de Marina", fará sentido para quem entende de ballet e sabe que são giros no próprio eixo, mas deixará no vácuo quem desconhece os movimentos da dança. A intertextualidade pode e deve ser usada a depender do contexto em que a narrativa está inserida.

4. Suba nos ombros dos grandes para ver mais longe: use músicas, leituras, conversas e, por que não, memes para se inspirar. Encontrou uma comparação, analogia ou metáfora inovadora, genial ou diferente? Anote em um arquivo ou caderno. Quando estiver faltando criatividade, vasculhe os registros e se inspire. Em seu diário, Anne Frank escreve que "nem minhas explosões de raiva conseguiam acalmá-los", a frase pode te inspirar e no seu texto virar "Nem o bom-senso do guarda esfriou o vulcão no peito de Marina".

5. Abrace seus medos: algumas metáforas irão funcionar, outras não. Seja ativamente paciente. Continue escrevendo, criando e dando a cara à Marina. Há um oceano de metáforas esperando por você.

Por fim, espero que esse artigo tenha acendido algumas luzes ao longo das suas jornadas metafóricas (ou não).

 

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